PUNKS ENTREVISTA: RODRIGO BOECHAT
Rodrigo Boechat é um dos artistas brasileiros que fazem parte do nosso catálogo. Ele é pianista, compositor e produtor musical e já trabalhou com grandes nomes nacionais, como André Matos e também já foi premiado por trabalhos com trilha sonora.
Suas músicas são sincronizadas através da Punks em vários programas de TV e recentemente elas foram utilizadas no Cinejornal do Canal Brasil. Confira a entrevista que ele deu pra gente!
Como se deu sua trajetória na música, desde os primeiros passos até hoje?
Meu pai gostava muito de ouvir música e sempre teve muitos discos e CDs em casa. Uma vez encontrei alguns LPs de trilha sonora de cinema e tornou-se um hábito passar tardes escutando. Ainda na infância, tive experiências (frustradas) tentando aprender guitarra, bateria e baixo. Um pouco mais tarde, na adolescência, tive meu primeiro contato com um teclado e senti uma grande afinidade com o instrumento. Lembro de ter ficado encantado, pois além de ser o primeiro instrumento com o qual me familiarizei, com alguns dedilhados estava conseguindo encontrar e tocar de ouvido algumas melodias que eu tinha na memória. A partir de então comecei a estudar piano e tocar teclado em algumas bandas com amigos do bairro. Nos últimos anos, tive uma grande experiência no cenário do Heavy Metal nacional. Em 2014, fui convidado para ser tecladista do Soulspell, uma banda paulistana de Metal Ópera. Trabalhei em estúdio e fiz shows com eles até 2018, quando gravamos o DVD em comemoração aos dez anos da banda. Juntos, produzimos e lançamos 5 videoclipes, um CD e um DVD. Nesse período, tive a oportunidade de trabalhar junto com músicos conhecidos do Metal, como André Matos e Fabio Lione, por exemplo. Essa oportunidade de conhecer pessoalmente, conviver e tocar com André, artista que foi meu ídolo na adolescência, foi uma vivência e tanto. Atualmente, estou focado em minha formação acadêmica musical (faço faculdade de Música na Universidade Federal de Minas Gerais) e em minha carreira como compositor e produtor de trilhas sonoras.
Quais são suas principais referências musicais?
Música Clássica: Meu compositor preferido é Beethoven;
Compositores de trilhas sonoras de cinema: principalmente Alan Silvestri, John Williams, Thomas Newman e Hans Zimmer;
Artistas dos anos 80 e 90: principalmente Tears For Fears, The Cure, Joy Division e A-ha;
Música New Age: Enya.
Música Brasileira: Hermeto Paschoal, Luiz Gonzaga e Carlos Gomes.
Seu EP Viajante do Cerrado já fez parte da trilha sonora de programas de TV, por meio de sincronizações pela Punks S/A. Conta pra gente como ele surgiu e quais foram suas principais ideias desenvolvidas neste trabalho.
Esse EP foi uma aventura para mim, porque as músicas transitam por um terreno muito vasto onde eu ainda não havia pisado até então, que é a música brasileira. Tudo começou quando senti vontade de conhecer melhor alguns estilos regionais brasileiros com os quais tive mais contato naquele ano (2018). Com isso, passei um bom tempo ouvindo e estudando obras de compositores como Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Fui gostando cada vez mais do que eu estava conhecendo e também ficando bastante curioso com as particularidades de cada estilo. Acabei lendo muitas partituras de estilos como baião, xaxado e maracatu durante esse tempo, para complementar os estudos. A inspiração para as músicas veio também do contexto em que eu estava inserido na época. No começo de 2018, me mudei do Rio de Janeiro para Ouro Preto, uma cidade histórica no interior de Minas Gerais. Lá, tive contato com muitas coisas novas para uma pessoa que sempre viveu no subúrbio de uma capital. A cada esquina daquela cidade, a gente se depara com o passado, seja através de um casarão do século XVIII ou uma igreja em estilo barroco. Essa conexão constante com tempos antigos fortaleceu minha ligação com a música erudita e também com compositores brasileiros do passado. Além disso, explorando o interior de Minas, conheci uma parte do Cerrado e fiquei encantado com esse bioma brasileiro que ainda desconhecia. Sua incrível pluralidade de espécies animais e vegetais, além da variedade de cores, sons, aromas, climas e cenários me inspirou bastante. Hoje, vejo que de alguma forma minha obra se assemelha ao Cerrado, nesse aspecto miscigenado. Em meio a essas circunstâncias, as músicas do Viajante Do Cerrado vieram de maneira bem natural. Compus as quatro faixas, gravei e produzi tudo em cerca de uma semana. Quando as primeiras ideias foram surgindo e eu comecei a pensar sobre qual direcionamento dar às composições, senti vontade de criar algo simples e confortável de se ouvir, mas que não deixasse de ser sofisticado e de ter certa complexidade artística. Minha ideia principal era mesclar estilos populares com a música erudita. A maneira como as pessoas ouvem música hoje em dia mudou bastante, assim como seus hábitos. Não são todos que têm o privilégio de investir 30 minutos do seu tempo para ouvir pelo menos um único movimento de uma sinfonia e dedicar sua atenção exclusivamente a isso. Foi pensando nisso que planejei o Viajante Do Cerrado, sendo composto por quatro breves peças que juntas formam uma pequena “sinfonia” de quase 9 minutos.
Você tem produzido durante a pandemia? Qual o maior desafio em se manter como artista independente nesse período?
Continuo produzindo. No momento estou focado na produção de trilhas sonoras originais e também fonogramas para sincronização. Em Maio, finalizei uma série em que estava trabalhando desde 2019 e atualmente estou produzindo a trilha sonora de um curta-metragem argentino. Grande parte das minhas atividades sempre foram realizadas de maneira remota, aqui do meu Home Studio, então pude continuar desenvolvendo a maioria dos projetos em que estava envolvido e iniciar novos trabalhos também, todos à distância.
Existem muitos desafios, alguns monetários e outros não. Mesmo antes desse trágico momento, os artistas já resistiam a uma dura ausência de projetos e incentivos voltados para os profissionais da cultura de um modo geral. Alguns editais foram publicados para apoiar os artistas durante a pandemia, mas a quantidade de projetos ainda é muito pequena para atender à demanda atual. É possível destacar algumas iniciativas positivas de algumas associações de direitos autorais e empresas de streaming, por exemplo, que destinaram um determinado orçamento em apoio aos músicos durante a pandemia. É um tipo de conduta que poderia ser adotada por mais instituições dentro e fora do mercado fonográfico.